quarta-feira, 17 de março de 2010

Um pé e meio.



Seus olhos brilhantes me chocavam. Seu sorriso nunca estivera tão branco. Senti-me feia. Olhei-me ao espelho adjacente à cômoda jamais vista. E como que fosse o esperado, senti meus dentes amolecerem. Como por intento, cospi todos em minha mão. Toquei a sua, que se abriu em pedido. Entreguei e a segurei fechada. Chorei. Disse que era pra que guardasse de lembrança.
Acordei.
Temi por nossa saúde. O problema é que estava tudo bem.

terça-feira, 9 de março de 2010

Kafka



Quando você partiu não deixou uma explicação de como proceder sem ti. Nenhuma dica, nada escrito na última folha do caderno, uma carta, pra onde ir, como me portar, qual rumo tomar. Absolutamente nada. Partiste largando-me aos prantos, como um quebra-cabeça faltando uma peça. Quando partiste não me ensinou o caminho na rua, nem falou como vestir-me, ou como a partir de agora usar meu cabelo. Não me deixou garantia nenhuma de regresso, e nem disse que era um jogo, "daqui a 60 dias eu volto, fique tranquila". Não, nada. Não deixou uma explicação de como viver sem ti. Procurei manuais de instruções na minha cabeça, enquanto eu permanecia imóvel, em pedaços, esperando que entrasses pela porta pra dizer que foi uma brincadeira.